É interessante o questionamento dos discípulos “Mestre, onde moras?” (Jo 1, 38). Nos discípulos encontramos a nossa imagem. Na pergunta deles, vemos as nossas. O desejo deles é o mesmo nosso. O desejo de conhecer a morada de Deus, saber da sua intimidade.
Há no nosso coração o desejo de transcendência, de unir-se à realidade superior, voltar-se ao Supremo, a relacionar-se com o Divino. Temos uma vontade de conhecer a Deus. E neste ímpeto muitas vezes questionamos (e devemos sempre) onde Deus mora, onde Ele está.
O Salmista desejou: “Meus coração diz a teu respeito: ‘procura sua face!’; É tua face, Senhor que eu procuro’” (Sl 27,8).
Moisés quis. A conversa amigável entre Deus e homem, no Êxodo (33, 12-23) nos narra o momento em que Moisés pede algo além do favor de Deus: “Mostra-me a tua glória”. Quis ver a face de Deus. Além de ser “amigo de Deus”, ele queria ver a face. Posteriormente o seu profetismo será reconhecido pelo povo pela intimidade que existia entre Deus e Moisés. O papa Bento XVI, no seu livro Jesus de Nazaré, nos fala sobre isto:
"E agora é dito também o que distinguira Moisés, o que fora único e essencial desta figura: ele havia se relacionado por Deus “face a face”; como o amigo fala com o amigo, era assim que ele tinha falado com Deus. O decisivo na figura de Moisés não são as ações maravilhosas que a seu respeito são contadas, não são as obras e os sofrimentos no caminho desde a “casa da escravidão no Egito” através do limiar da Terra Prometida. Decisivo é que ele tenha falado com Deus como um amigo: era somente daqui que podiam vir as suas obras, era somente daqui que podia vir a lei, que devia ensinar a Israel o caminho no curso da História." (Livro Jesus de Nazaré p.23)
O papa ressalta que a característica que distingue Moisés, não é as obras por ele realizadas, mas a sua intimidade, o seu relacionamento “face a face”. E nisto vemos o ensinamento: As nossas obras, aquilo que fazemos, devem ser precedidas de certo relacionamento com o Deus que provê todas as coisas. As nossas obras, portanto, seriam a expressão, a externalização, de uma realidade que se estabelece no íntimo do homem com Deus.
Apesar de o Mistério Divino ser insondável ao homem, e como Deus fala para Moisés, “Quanto à minha face, ela não pode ser vista”, Ele está sempre disposto a se mostrar. O ápice da Revelação de Deus está em Jesus, Jesus é o rosto humano de Deus, como diz Beato João Paulo II. E nele Deus revela que se o nosso grande desejo é conhecê-lo, maior é o dele em se mostrar. Deus sempre se antecipa aos nossos desejos. Vemos isto quando na própria passagem, Jesus, vendo os discípulos que o seguiam, pergunta “O que quereis?”.
E ao perguntarmos sobre sua casa, sua morada, Deus não tem resposta pronta, pois oferece algo muito melhor: a possibilidade de podermos contemplar com nossos próprios olhos, fazer a experiência, relacionar-se. Apenas nos diz “Vinde-ver”.
Para um dia respondermos como Jó: “Meus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram” (Jó 42, 5).
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