Um salto necessário ao Homem Moderno

A inauguração do ano da Fé nos motiva a pensar nesta capacidade, que primeiramente é dom, própria do ser humano. Olhar a fé, pensar sobre ela, é exercer uma reflexão própria daquele que quer experimentar o Totalmente Outro, que está aberto ao relacionamento com Deus. E certamente, num mundo cercado pelo individualismo, fazer isto, como propõe Bento XVI, é desafiar os próprios paradigmas atuais que não permitem ao homem uma possibilidade de abertura ao transcendente. Por isto a indagação: O homem moderno é capaz de se lançar? De dar o passo rumo ao desconhecido? De confiar naquilo que vai além de si e foge de seus arquétipos?
Não podemos simplesmente responder afirmativamente. Antes, devemos pensar que, a fé, sendo capacidade inerente ao ser, está para o homem como condição fundamental à descoberta da própria Felicidade e, por isto, não é uma característica opcional, mas fundamental do ser humano. Em outras palavras, o homem moderno não tem somente capacidade de fé, mas ele deve redescobrir a fé, para manter-se totalmente fiel à busca da Felicidade.
Entretanto, a fé exige algo que o homem moderno tem dificuldade em corresponder. Ela exige um salto ao desconhecido, ao que não está experimentalmente comprovado, algo que não cabe na simples razão. É como dizia, em sua obra Introdução ao Cristianismo, o então Cardeal Ratzinger: “a fé sempre teve algo de ruptura arriscada e de salto, por representar o desafio de aceitar o invisível como realidade e fundamento incondicional”. Porém, como fazer com que o homem moderno, tão acostumado ao palpável, ao visível, tome esta decisão do primado do invisível sobre o visível?
Em um contexto histórico cuja ditadura do empirismo é sufocante, falar daquilo que não está ao alcance da “deusa” ciência torna-se num desafio. Bento XVI, diante desta situação, sobretudo na Europa, mostra que não tem medo de desafios e mais uma vez nos provoca para enfrentarmos a nossa covardia e o nosso silêncio diante do grito ensurdecedor da secularização.
Torna-se, diante do apelo do Papa para o Ano da Fé, uma missão urgente mostrar ao homem moderno que é possível e necessário tomar a decisão da fé de se lançar ao infinito, ao que ainda é obscuro, de projetar-se ao ainda desconhecido e não tangível. Deste modo, este homem, poderá sair de si, deixar sua limitação e transcender, encontrar sua Felicidade na abertura ao que é Outro, mas que é todo Relação, todo Pessoal, inteiramente Pai.

Matheus Barbosa
Continue lendo ►

A Ação Transformadora de Pentecostes


Neste domingo celebramos Pentecostes. Celebramos a realização da promessa que Jesus nos fez antes de subir aos céus: “Eu vos enviarei o Paráclito, o Espírito da Verdade” (Cf. Jo 15, 26). Os Atos dos Apóstolos narra este acontecimento que inaugura uma nova geração profética. Chamada a anunciar as maravilhas de Deus aos povos.

No Evangelho, Jesus nos comunica sua missão: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio”, todavia antes de sairmos nos oferece Teu  Espírito. Ele é o princípio de toda missão. Tudo aquilo que fazemos enquanto Igreja, fazemos por um único inspirador: O Espírito Santo de Deus. Ele que nos move e renova a Igreja. O Espírito dá vida à Igreja.

Deste modo, não celebramos um acontecimento passado, antes revivemos e atualizamos. Pentecostes é hoje. É a ação transformadora na vida da Igreja e dos seus membros. Portanto, celebrar este acontecimento é abrir-se interiormente a uma transformação radical por meio do Espírito. Vejamos os discípulos! Dos quais o Evangelho nos conta que estavam fechados por medo dos judeus. Após a ação do Espírito em Pentecostes, são acometidos pela coragem de pregar o Evangelho, com sabedoria, ânimo, fortaleza, mesmo que isso lhes custassem a vida.

Enquanto nos reunimos, fazemos como os apóstolos e podemos receber a graça transbordante do Espírito. Precisamos nos abrir a este pentecostes que nos é oferecido hoje. Redescobrir a presença e a força do Espírito Santo em nossas vidas. E em nossa Igreja nascer um novo profetismo, uma geração santa, profética, que dê testemunho de Santidade para o mundo e que tenham a coragem de sair a anunciar o Evangelho, proclamar que Jesus é o Senhor, anunciar as maravilhas de Deus.

Não saiamos da Igreja hoje sem este fogo do Espírito, sem renovar os dons que recebemos no nosso batismo. Podemos reavivar esta chama hoje, reunidos em oração. Podemos receber como os discípulos receberam. E assim, sair como eles, pois não foram os mesmos depois de Pentecostes. Façamos como fizeram, abramos nosso coração para recebermos o Espírito e saiamos como profetas da Igreja para o mundo.

Matheus Barbosa
Continue lendo ►

Como o Bom Pastor Jesus

A Liturgia nos convida neste 4º domingo do Tempo Pascal a rezarmos pelas vocações religiosas e sacerdotais. A Igreja usa deste domingo dedicado todos os anos à reflexão da figura do Jesus Bom Pastor, para elevar preces a Deus pelos sacerdotes, chamados a serem pastores do povo de Deus segundo o coração de Jesus.

Mas, esta prece não se restringe aos padres. Toda vocação é um chamado a ser pastor conforme o Bom Pastor. Toda vocação traz em si um convite de Jesus para pastorear com Ele. A vocação Matrimonial, por exemplo, constitui um verdadeiro pastoreio, quando os pais educam seus filhos para Deus. Pais que entendem sua vocação, levam seus filhos a encontrarem abrigo no redil do Bom Pastor.

Embora entendamos isto, devemos ainda pensar sobre o que é essencialmente “Ser Pastor”. A passagem do evangelho que a liturgia nos propõe (Jo. 10, 11-18) nos dá características do Verdadeiro Pastor.

Vejamos, por exemplo, a figura do pastor que Jesus se refere. É um pastor de ovelhas. É diferente o método daquele que guia ovelhas, daquele que conduz gado bovino. Os que entendem um pouco das práticas rurais, o boiadeiro vai atrás dos bois, gritando, cercando. Usa do seu berrante e do seu chicote para levar o gado ao destino. O pastor ovino é diferente. Ele vai à frente das ovelhas, chama suavemente, até canta. Toca flauta, usa o cajado, não para bater, mas para proteger, dar rumo.
Assim vemos a primeira característica: O pastor de que Jesus nos fala, é o pastor que vai à frente conduzindo, mostrando o caminho. De maneira serena, delicada, porém corajosa e convicta do rumo que se deve tomar.

Podemos tomar outra comparação do mesmo evangelho: O pastor e o mercenário.
O mercenário pode ter superficialmente a mesma função do pastor. Também mostra o caminho para as ovelhas, vai à frente, fala suavemente, enfim... Mas, há algo que os distingue: O mercenário faz pelo lucro, é funcionário. Faz, não porque ama as ovelhas, mas quer a recompensa do seu trabalho. Por isto, quando aparece o lobo, não está afim de arriscar sua vida por algo que não é seu. O pastor, pelo contrário, cuida das suas ovelhas pois tem afeição por elas. O pastor as reconhece pelo nome, tem o carinho especial por cada uma, é capaz de ir atrás da que se perde e permanece para proteger do lobo, mesmo que isto lhe custe a vida.

Jesus nos dá a segunda característica do Bom Pastor: Ele é capaz de doar-se. A doação da própria vida pela ovelha é o marco entre o mercenário e o Pastor. Jesus é o Bom Pastor, capaz de entregar sua vida, na gratuidade, como ele mesmo diz ao fim do Evangelho: “Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo”. Asssim, nos ensina que o pastoreio baseia-se também na gratuidade.

Conduzir e Doar: Duas palavras que Jesus ensina aos que querem ser pastores como Ele. Saber conduzir as ovelhas que nos são confiadas, curar as feridas, doar nossa vida, pastorear na gratuidade, é missão para aqueles que souberam ser ovelha, deixaram ser conduzidos e curados pelo Bom Pastor e agora querem também realizar esta missão no mundo.

Matheus Barbosa
Continue lendo ►

Deus na Intimidade

É interessante o questionamento dos discípulos “Mestre, onde moras?” (Jo 1, 38). Nos discípulos encontramos a nossa imagem. Na pergunta deles, vemos as nossas. O desejo deles é o mesmo nosso. O desejo de conhecer a morada de Deus, saber da sua intimidade.



Há no nosso coração o desejo de transcendência, de unir-se à realidade superior, voltar-se ao Supremo, a relacionar-se com o Divino. Temos uma vontade de conhecer a Deus. E neste ímpeto muitas vezes questionamos (e devemos sempre) onde Deus mora, onde Ele está.



O Salmista desejou: “Meus coração diz a teu respeito: ‘procura sua face!’; É tua face, Senhor que eu procuro’” (Sl 27,8).



Moisés quis. A conversa amigável entre Deus e homem, no Êxodo (33, 12-23) nos narra o momento em que Moisés pede algo além do favor de Deus: “Mostra-me a tua glória”. Quis ver a face de Deus. Além de ser “amigo de Deus”, ele queria ver a face. Posteriormente o seu profetismo será reconhecido pelo povo pela intimidade que existia entre Deus e Moisés. O papa Bento XVI, no seu livro Jesus de Nazaré, nos fala sobre isto:


"E agora é dito também o que distinguira Moisés, o que fora único e essencial desta figura: ele havia se relacionado por Deus “face a face”; como o amigo fala com o amigo, era assim que ele tinha falado com Deus. O decisivo na figura de Moisés não são as ações maravilhosas que a seu respeito são contadas, não são as obras e os sofrimentos no caminho desde a “casa da escravidão no Egito” através do limiar da Terra Prometida. Decisivo é que ele tenha falado com Deus como um amigo: era somente daqui que podiam vir as suas obras, era somente daqui que podia vir a lei, que devia ensinar a Israel o caminho no curso da História." (Livro Jesus de Nazaré p.23)



O papa ressalta que a característica que distingue Moisés, não é as obras por ele realizadas, mas a sua intimidade, o seu relacionamento “face a face”. E nisto vemos o ensinamento: As nossas obras, aquilo que fazemos, devem ser precedidas de certo relacionamento com o Deus que provê todas as coisas. As nossas obras, portanto, seriam a expressão, a externalização, de uma realidade que se estabelece no íntimo do homem com Deus.



Apesar de o Mistério Divino ser insondável ao homem, e como Deus fala para Moisés, “Quanto à minha face, ela não pode ser vista”, Ele está sempre disposto a se mostrar. O ápice da Revelação de Deus está em Jesus, Jesus é o rosto humano de Deus, como diz Beato João Paulo II. E nele Deus revela que se o nosso grande desejo é conhecê-lo, maior é o dele em se mostrar. Deus sempre se antecipa aos nossos desejos. Vemos isto quando na própria passagem, Jesus, vendo os discípulos que o seguiam, pergunta “O que quereis?”.



E ao perguntarmos sobre sua casa, sua morada, Deus não tem resposta pronta, pois oferece algo muito melhor: a possibilidade de podermos contemplar com nossos próprios olhos, fazer a experiência, relacionar-se. Apenas nos diz “Vinde-ver”.



Para um dia respondermos como Jó: “Meus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram” (Jó 42, 5).

Matheus Barbosa
Continue lendo ►

Seguidores

 
^ Voltar ao Topo